12/06/93
Exatamente 10 anos atrás eu acordava depois de uma noite fria em São Bernardo do Campo. Meu pai já havia se levantado e assistia a um programa de TV. O Assunto não podia ser outro. A final do campeonato Paulista que se realizaria logo mais à tarde. A entrevista com o cantor Sérgio Reis sobre seus preparativos para assistir a partida me distrairam um pouco, mas a ansiedade era totalmente incontrolável. Depois de uma semana de muita gozação devido ao primeiro jogo e ao Viola imitando um porco finalmente aquela história iria terminar, por bem ou por mal.
Uma semana antes meu pai tranquilamente me dizia ao final do jogo apenas isso: "calma, tem mais um jogo". Eu confesso que com o apito final da primeira partida fiquei desolado e sem nenhuma esperança de vitória, mas meu pai tinha razão. Ainda não havia nada decidido. Tínhamos massacrado eles no primeiro jogo mas o gol não saiu. Éramos mais time, por que não poderíamos ganhar?
O pessoal gambá da escola não pensava dessa forma e já falavam como campeões. E na minha turma havia apenas dois Palmeirenses: eu e meu irmão. Resumindo, eu.
Bom, voltando ao dia 12/06/93, o almoço passou e com ele a ansiedade, por incrível que pareça, ainda podia aumentar. "Porra, não chega logo a hora desse jogo?". O tempo foi passando, na TV só haviam flashes das concentrações e tudo aquilo que sempre se vê nas finais: reportagem com torcedores, comentaristas, etc. A Mancha Verde havia feito uma pressão muito boa pra mexer com o brio dos jogadores no hotel em Atibaia onde se concentraram no meio da semana. Ofereciam dinheiro pelo título. Os jogadores ficaram com aquilo na cabeça com certeza. Tinham que ganhar. No dia anterior, um torcedor do Palmeiras disse uma boa frase na TV: "Alegria de corintiano é que nem liquidação: acaba sábado". Tomara que esse cara estivesse certo eu pensava.
Finalmente chega a hora do jogo. Lembro exatamente da disposição das pessoas no quarto de TV em casa vendo o jogo. Meu pai, minha mãe, eu e até meu irmão. Aliás lembro até que roupa eu estava usando.
Nunca havia tido alguma grande alegria com futebol. No ano anterior, tomamos um sacode do São Paulo nos dois jogos e nem uma comemoração de um golzinho foi possível. Esbravasar em casa com um gol, como num estádio (mas só havia ido uma vez até aquela data) nunca havia acontecido, mas como verão adiante, não faltava muito pra isso acontecer. Vale ressaltar que a primeira partida que perdemos por 4x2 foi um dos jogos mais emocionantes que já ouvi num rádio. Naquela época, apenas a segunda partida era transmitida pela TV.
Bom, começa a partida de 93 e logo de cara o Edmundo perde um gol embaixo da trave. O Palmeiras estava demais. Acolhia o corinthians em seu próprio campo que tentava parar o nosso time na porrada, mas o Verdão ganhava todas as divididas na marra. Percebia-se que o corinthians estava assustado com aquilo e aos 11min já fazia a primeira substituição. Mas não tinha jeito, o Palmeiras estava arrasador. O tempo passa e o gol não sai. A essa altura já pensava se os dedos sarariam depressa se eu os comesse, pois não haviam mais unhas. O corinthians se solta um pouco. Falta e o Neto é sempre uma preocupação: pra fora graças a Deus. Um cruzamento e o Viola cabeceia sozinho nas mãos do Sérgio: "caralho, será que num vai ser hoje ainda?". Já sentia vontade de chorar quase, mas exatamente no lance seguinte... ah, o lance da minha vida... puta que o pariu, já me arrepiei só de lembrar!! O Edílson cruza o meio de campo, toca pro Edmundo mas o Henrique tira no carrinho. A bola sobra pra Evair, que rola pro Zinho, que... que... puta que o pariu!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!! Não sei o que ele fez, mas a bola estava dentro do gol e eu estava pulando e gritando com meu pai no quarto feito louco! Foi totalmente um instinto. Nós dois levantamos e começamos a gritar no mesmo instante. "O que era aquilo? Que muito animal isso! É hoje!" - pensei.
Logo em seguida Henrique expulso e fim do primeiro tempo. Mas havia muito o que acontecer ainda... do mesmo jeito que falava pros gambás que nada havia terminado ainda, tinha de agir da mesma forma.
No segundo tempo o corinthians pressiona um pouco mas nada que possa assustar. O Palmeiras nos contra-ataques leva um perigo desgraçado. Numa jogada com somente toques de primeira de Antônio Carlos, pra Roberto Carlos, pra Zinho e pra Edmundo a bola passa raspando. Um pouco depois o Tonhão lança o Edmundo que num drible da vaca sofre uma falta espalhafatosa (como disse o José Silvério na transmissão) de Ronaldo. O mesmo é expulso, mas, muito malandro, simula uma cabeçada do Tonhão e este acaba pagando o pato. Agora eram dez contra nove e o time do corinthians se perdia mais ainda. Passada a confusão os times se acomodam um pouco mas logo sai outro gol. Mazinho cruza e Evair completa. Como esse cara merecia esse gol. Tinha ficado um tempão parado, voltado no segundo tempo da primeira partida e agora comandava o time. Com certeza nunca gostarei mais de alguém que eu vier a conhecer (incluam-se aí namoradas e esposa) do que desse cara. Mas ele ainda num tinha feito tudo naquele dia. Com o 2x0 ninguém queria mais nada, mas mesmo assim saiu o terceiro, pra acabar de vez com os gambás. Agora sim o Palmeiras estava com a vantagem, soberano, enquanto o corinthians não tinha mais nenhuma esperança.
Acaba o jogo e começa a espera pela prorrogação. No estádio a torcida do Palmeiras não pára de cantar. A do corinthians esboça um começo de agito mas eles mesmo sabiam que não tinham a menor chance. Mal a prorrogação começa e o Edílson já perde um gol feito. Logo em seguida o Viola dribla metade da zaga do Palmeiras mas chuta pra fora. "Só faltava essa, caralho... mas que sofrimento". Mas nem deu tempo do time deles crescer. No contra-ataque o Edmundo entorta o Ricardo e sofre penalty. Na confusão o Ezequiel xinga toda família Aparecido e vai pro chuveiro mais cedo. Acho que ele deve achar isso bom até hoje pois não passou o sofrimento que o resto de seu time passou.
Na hora da cobrança do penalty... ah Evair... tinha de ser você pra selar essa vitória... não tenho nem palavras pra descrever esse gol. Chorava já quando a bola estava correndo de mansinho pro gol. Via a imagem da torcida comemorando, dos jogadores... agora não seria possível perdermos... começava a sentir pela primeira vez a sensação de um título. A prorrogação parece não acabar mais. O Edmundo ainda faz um gol no segundo tempo mas foi erradamente anulado por impedimento. Você deve estar pensando que fiquei puto com o bandeira. Fiquei o caralho, nem entendia mais o que estava acontecendo. Estava em estado de choque. Seríamos campeões dentro de alguns minutos. Os fogos perto de casa não paravam de estourar. O Evair tinha sido substiuído e recebido a maior aclamação da história do futebol. Acho que a torcida do Palmeiras no Morumbi pensava se invadir o campo e beijar os pés do cara atrapalharia o espetáculo.
De repente a bola sobra na esquerda com o Roberto Carlos que toca pro César Sampaio se não me engano. Mal dá tempo dele tocar pro Alexandre Rosa e... apita o árbirto, jogadores correndo, símbolo do Palmeiras estampado na tela... infelizmente não lembro direito do que se sucedeu depois disso. Sei que ia na janela do quarto da minha mãe berrar vendo os fogos de artifício, voltava pra ver a TV... ia pra outra janela... sei lá... nada importava mais... sentia o gosto de um título pela primeira vez... esse negócio de fila não existia mais... Realmente é algo impossível de descrever com palavras.
Era difícil acreditar em tudo aquilo, mas com certeza não era um sonho. Nenhum sonho que eu pudesse ter chegaria 2% perto do que eu sentia!!
De noite saí pra comer uma pizza com meus pais e depois ir na casa do meu tio comemorar com ele. Lembro que na Av. Prestes Maia e na Marechal só se viam torcedores com bandeiras nos cruzamentos. Caras da Mancha distribuiam um folheto com a foto do Viola imitando um porco.
No dia seguinte festa junina na casa do meu avô e encontro todos com a camisa do Palmeiras. A sua já era da Rhumell hein Luiz? Mas a minha da Adidas é histórica, diz aí!. Conversamos sobre como tinha sido o dia anterior. Lembro que o Luiz tinha ido na sacada do prédio dar um berro no gol do Zinho, certo Luiz?. O irmão dele então deve ter passado perto de explodir com o marcapasso...
Depois disso ficaríamos na hegemonia do futebol brasileiro por um bom tempo... mas com certeza nada bateu a alegria daquele título.
Pena que sair da fila e ver o primeiro título é algo que só acontece uma vez.
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