segunda-feira, novembro 24, 2003

O jogo da volta


Bom, como ia dizendo, o jogo de sábado parecia que seria uma guerra. A torcida dizendo que o Palmeiras ia ser humilhado, que não seguraria o Sport. Mas na verdade eles sabiam que não conseguiriam vencer o Palmeiras. Os diretores do Sport e o Hélio dos Anjos não paravam de reclmar durante a semana. Porra, o jogo nem tinha acontecido e já reclamavam? Eu particularmente acreditava num empate do Marília contra o Botafogo, que já nos daria a classificação.
Começa o jogo e nem preciso dizer que estava nervoso. Aliás eu estava nervoso pra caralho. Nunca tinha ficado tão nervoso eu acho. Ver uma decisão pela TV é horrível! Acostumei a ver decisões com meu pai em casa mas dessa vez ele não estava lá. Ele ia acompanhar no sul pois tinha ido trabalhar por lá. Bom, teria de torcer por ele e por mim em casa, mesmo sabendo que ele estava na torcida lá também e que o Luiz também estava fazendo o mesmo ouvindo no Canadá. Mas eu estava decidido, ia torcer por todos. Inclusive por minha mãe que estava comigo.
O Sport que falou tanto que ia sufocar o Palmeiras não fazia nada. Mas nós também não. O Palmeiras jogava mal, errava muitos passes, mas mesmo assim teve chance de marcar. O Sport por outro lado ia ganhando aquelas bolas que batem em todo mundo e sobram pro atacante e levaram perigo depois de um tempo também. Sai o primeiro do Botafogo e já vi que quem quer ganhar ganha no campo que está jogando, não no dos outros. Eqto isso eu continuava como um torcedor nervoso e concentrado poderia estar: quieto, sem tirar os olhos da TV. Me lembrei da Libertadores 99. O jogo de nossas vidas naquela final contra o Deportivo Cali e a torcida quieta o jogo todo. É nevosismo demais. Torcer se limita a ficar olhando sem piscar.
0x0 e esse resultado era nosso. Senti no intervalo que a gente ia manter o resultado. Íamos voltar melhor. Mas não foi o que aconteceu. Numa falta o Sport abriu o placar. No minuto seguinte eles perdem uma oportunidade clara pra fazer 2x0 e aí esse ano passou pela minha cabeça. No rádio a imprensa já percebia que não era tão certo que voltaríamos pra primeira divisão. O Botafogo fazia 2x0 e o Adão zinho é expulso. Como fiquei puto com ele. Acho que nunca xinguei tanto um cara do meu próprio time quanto ele. Minha mãe achou que eu ia ter um ataque cardíaco. E o corno continuava reclamando e não saia do campo. Cheguei a pensar que o tanto que eu gritava pra ele sair seria suficiente pra ele me ouvir lá do Nordeste. O ABC ouviu.
Depois dessa hora, quando tudo parecia caminhar pro pior, eu tive um momento de calma. ¨Porra, a gente tem mais time. Coloca a bola no chão e vamos ganhar esse jogo!!!¨. Acho que no instante que eu pensava isso aqui o Palmeiras pensava o mesmo. Se acertou e já empatou o jogo. Magrão, puta que o pariu, tinha de ser você mesmo!!! A partir daí ainda faltava muito jogo e eu voltei a ficar mais nervoso como nunca. Eu não cronometrei, mas segundo meus cálculos o cronômetro da TV Record levou 2h13min pra passar de 29min para 30min.
Com o empate e a possível classificação não dava nem pra respirar. O tempo não passava e eu pensava se eu ia aguentar ver o gol do Sport no ultimo minuto. Mas o Palmeiras perdeu uma chance e na seguinte fez 2x1. Opa, agora sim já estamos classificados, dizia o locutor. Levou os 3 minutos de xingamentos que mereceu o desgraçado. Estamos ganhando por 2x1, 35min do segundo tempo. Que vou pensar? Que vamos tomar uma virada de 5x2, claro... tudo tinha de ser nervoso.
O tempo vai passando e perdemos chances de ampliar. Os acréscimos de 3min me pareceram 20min. Passamos os últimos minutos tocando bola. O Sport não tinha mais forças pra nada, não acreditavam no que viam. Mas tinham de acreditar. Foram massacrados por um time que estava predestinado a ganhar. Uma camisa que não estava no seu lugar na segunda divisão, mas que queria voltar pra primeira de onde nunca poderia ter saído.
Ver o apito final foi algo que me arrepia até agora... a gente tinha conseguido. De quebra éramos campeões. Um ano inteiro de sofrimento, de angústia e de ansiedade chegava ao final. Um final feliz.
Me senti com o dever cumprido. Tinha feito a minha parte na torcida pra levar o Palmeiras pro seu lugar.
Agradeço de coração a todos os jogadores do Palmeiras por terem acabado com a humilhação na bola. Nunca vou me esquecer do que fizeram pra mim no sábado.