quarta-feira, outubro 08, 2003

"O bandeira tá correndo pro meio do campo..."


Falei nos comentários do meu post anterior sobre meu vício de só comemorar um gol quando vejo que o juiz já o confirmou. E isso é verdade, não tem jeito. Enquanto eu não constatar que o “Homem de Preto” já confirmou o tento, não faço a mínima festa pelo fato da bola já ter ultrapassado a linha fatal.

E posso precisar a data de quando comecei com esse hábito. 17 de dezembro de 1995, dia da fatídica decisão do Brasileiro daquele ano, contra o Botafogo. O jogo seguia em um 1x1 dramático, que nos tirava o título. O Santos pressionava de todos os modos. Tinha escanteio, chute de fora da área, tabelinha, falta perigosa e nada da bola entrar.

Até que, no meio do segundo tempo, bola na área do Botafogo. Camanducaia sobe mais alto que os cariocas, mete a cabeça e a bola vence o maldito Vágner. O gol do título.

Comecei a comemorar que nem um louco. Pulei e virei pra abraçar meu primo. Porém, quando faço isso, percebo que ele não está comemorando. A impressão dele era atônita, assustadora. Ele olha pro campo fixamente. Atrás de mim alguém diz: “o filho da puta anulou”. Olho pro campo e constato que realmente o filho da puta anulou. E nada de gol do título.

Por isso, hoje, o gol só acontece quando o juiz aponta o centro do campo e o bandeirinha sai correndo. Não adianta chutar a bola no ângulo, estufar as redes, nada.

domingo, outubro 05, 2003

Tudo o que eu mais precisava


O fim de semana não tinha começado bem. Na sexta, uma balada errada do começo ao fim - com direito a uma perda do celular no final (aliás, se alguém achar um Nokia cinza, me avise!). E na manhã do sábado, a ressaca não me deixava esquecer da bebedeira do dia anterior. Tudo indo mal.

Em momentos como esse, precisamos de algo que apareça para alegrar a nossa vida. E nada era melhor do que o jogo de ontem. O adversário não poderia ser mais perfeito: São Paulo FC, time que disputa cabeça com cabeça com o Corinthians no posto de entidade que mais odeio no mundo do futebol - e que tem, obviamente, a torcida que menos respeito.

E lá fui eu pro Morumbi, sozinho. Fiz meu caminho doido, que aumenta a distância ao estádio em uns 15 km, mas pelo menos garante segurança completa. Cheguei lá cedo, comprei o ingresso com facilidade (claro que não tinha estudante, mas isso eu nem esperava mesmo) e entrei no estádio com mais de uma hora pro início da partida.

Antes do jogo, a tradicional guerra de gritos. Estávamos, como o esperado, em ampla minoria. Fiquei no meio da Jovem, e então estava no meio de toda a barulheira. Às vezes dá a impressão que essa gritaria já vale o ingresso...

E a partida... uma beleza. Merecemos vencer, indiscutivelmente. Não me venham falar que os gols do Santos foram irregulares, pelo amor de Deus. O lance do escanteio que originou o primeiro gol mostrou uma grande inteligência de Paulo César de Oliveira, e isso deve ser ressaltado.

No segundo tempo, quando o placar já estava 2x1, nossa torcida fez algo que me agradou muito. Faltando uns 20 minutos, um idiota começou a puxar um dos gritos que mais abomino: "oooolé". A reação da galera foi unânime. "Olé o c@$$&#, seu filho da p#%#%", e mais outras palavras que não podem ser colocadas nesse horário. Muito bom, gostei. O cara ficou quietinho.

E não preciso dizer que o apito final foi um dos mais comemorados da minha vida. Afinal, 2x1 é foda. Ô resultado pra matar do coração...

Mas a parte mais legal de tudo veio no final. Saindo do estádio, ainda nas dependências do Morumbi, há um barranco com um símbolo do São Paulo grandão - quase igual aquele em que o Diego pisou no ano passado.

A galera, feliz da vida, não teve dúvidas: foi toda pra cima do símolo, pisando em cima, cuspindo, xingando, como que ceebrando a conquista de um território - o que, de um jeito ou de outro, estava acontecendo. Não perdi a oportunidade e fu pra cima também. A primeira coisa que fiz foi dar uma catarrada servida, daquelas que vem do pulmão mesmo. E depois um carinha puxou a massa: "vamo mijá nessa porra!" - campanha a qual acabei aderindo. Pelo que representou, acho que foi a melhor urinada da minha vida.

Perfeito, perfeito. Esse jogo era tudo que eu precisava.